Paulo Ferreira Pinto: Por que é que VOU participar no protesto da "geração à rasca"?

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Nome: Paulo Ferreira Pinto
Idade: 36 anos
Residência: Gondomar
Profissão: Professor de Filosofia

Para dar lições já bastam as aulas. No entanto, podemos concluir em conjunto alguns processos e outros tantos conceitos. Vou participar na manif "geração à rasca". Passo a explicar.

Com o 25 de Abril, o Estado ficou vazio. Como o poder tem horror ao vácuo, muito depressa os seus corredores, labirintos e esquinas foram povoados pelos jovens, menos jovens exilados, comunistas, entre outros, que viram a ocasião como uma oportunidade única. Ou seja, gente que, não fosse o vértice histórico, ficaria na penumbra do anonimato e da criadagem de segunda. De repente, surgiram por todos os lados grupos de indivíduos sem experiência ou qualidade governativa nos postos mais importantes do país. Mesmo as faculdades foram saneadas para acolher os novos professores (muitos deles sem qualquer formação superior concluída). Foi uma nova fornada que saiu para preencher tudo em todo o lado. Aqueles que tinham qualidade foram despachados rapidamente apelidados de "fascistas".

A par disto, fez-se uma Constituição apenas com a função de proteger aqueles que estavam no poder e para impedir que alguém de fora viesse tirar-lhes os "tachos" que lhes caíram no colo.

A Terceira República é o regime mais caro que existiu no país desde a sua fundação, e este facto deve-se aos privilégios que os novos governantes auto-concederam a eles mesmos (montantes e direitos inéditos até mesmo na monarquia), à enorme incompetência dos mesmos, à corrupção e tráfico de influências, ao total desprezo pela pátria. Apropriaram-se completamente dos bens públicos e nacionais - e desbarataram-nos. Basta ver a leviandade com que se fez a descolonização: uma inédita e monstruosa vergonha de lesa pátria, a meu ver com implicações juridico-penais - um real caso de tribunal.

Nada deste panorama é novidade, dirão alguns não menos avisados; quem está no poder faz sempre tudo para lá se manter - referirão a grande lição de Maquiavel, por exemplo. Certíssimo. Mas com uma enormíssima diferença capital (Salazar é disso exemplo): por mais que se proteja, por mais que se aproveite do poder, jamais se poderá colocar em causa a continuidade da nação, a sua sobrevivência, continuidade saudável. Uma das lições de Maquiavel é o amor à pátria: quem está no poder- e para o florentino apenas e somente deveria estar quem tivesse competência, virtude, superioridade e capacidade (ou seja, muito poucos), quem está no poder, dizia, tem o dever/direito de fazer tudo para aí se manter desde que o mesmo vá de encontro aos supeiores interesses da pátria. Acima dos interesses próprios estão os da entidade que se governa. Até porque se o país falhar e afundar-se eles afundam-se com ele. Uma questão de inteligência, qualidade que vai rareando nas instâncias políticas actuais.

A situação portuguesa actual roça perigosamente outras na História que fizeram perigar o regime em vigor. O desconforto, a impaciência, o descrédito são grandes. As dificuldades e os sacrifícios que se pediram aos portugueses nas últimas décadas foram em vão. Os problemas subsistem e agravam-se dia após dia. As pessoas vivem pior cada dia que passa. Portugal continua na cauda da Europa de onde esta gente garantiu que fugiríamos. De certa maneira estamos como em 1974 mas sem a esperança e a força de vontade, pois já fizemos o caminho todo. Já sofremos o caminho todo. Para nada, afinal. Os únicos que melhoraram... Bem, sabemos quem são. A tanto é preciso dizer BASTA!

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