Banco de Portugal prevê recessão de 1,3% este ano

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Consumo privado vai cair 2,7 por cento este ano Enric Vives-Rubio

Este ano, a economia portuguesa deverá contrair-se 1,3 por cento, devido ao impacto das medidas de austeridade sobre o consumo e o investimento. A previsão é do Banco de Portugal e vem contrariar o optimismo do Governo, que aponta para um crescimento de 0,2 por cento em 2011.

Nas previsões do seu Boletim de Inverno, hoje divulgado, o Banco de Portugal (BdP) junta-se a vários economistas e organizações internacionais que estão à espera que a economia nacional volte a entrar em recessão este ano. O banco central aponta para uma contracção de 1,3 por cento, a que se seguirá “um crescimento limitado” de 0,6 por cento no próximo ano.

No Boletim de Outubro, quando tinha feito as últimas previsões, o BdP ainda estimativa uma estagnação da economia (crescimento nulo), mas não contabilizava o impacto das medidas de austeridade presentes no Orçamento do Estado para 2011, entre as quais o aumento do IVA e o corte salarial na função pública. A agravar o cenário, intensificaram-se as limitações de financiamento à economia nacional.

Mas a nova previsão do Banco de Portugal não contempla também as medidas da Iniciativa para a Competitividade e o Emprego, anunciadas a 15 de Dezembro, nem todo o conjunto de medidas que não foram suficientemente especificadas. Isso, aliado a outros factores, gera fortes riscos de as já negativas previsões do BdP serem ainda piores.

De acordo com o banco central, há uma probabilidade de cerca de 60 por cento de o crescimento do Produto Interno Bruto ficar abaixo de -1,3 por cento este ano e uma probabilidade de 63 por cento de o mesmo acontecer em 2012.

O principal factor de risco é a dimensão do crescimento da procura externa dirigida às empresas portuguesas. O BdP prevê um crescimento de 5,9 por cento das exportações este ano, seguido de 6,1 em 2012.

Contudo, as tensões nos mercados da dívida pública e a eventual necessidade de mais medidas de austeridade nos nossos principais parceiros comerciais podem provocar um abrandamento da actividade económica nesses países e, consequentemente, uma menor procura externa dirigida a Portugal.

Além disso, o consumo privado e o investimento poderá cair mais este ano do que o BdP está a prever (-2,7 por cento e -4,6 por cento, respectivamente) e as condições de acesso ao crédito podem revelar-se “significativamente mais restritivas do que as consideradas na actual projecção, especialmente num contexto de redução do grau de alavancagem do sistema bancário”.

Economia cresce acima do esperado em 2010

De acordo com as projecções do Banco de Portugal, o consumo privado deverá cair 2,7 por cento este ano, bastante acima das previsões do Governo, que aponta para uma quebra de apenas 0,5 por cento.

O consumo público deverá recuar 4,6 por cento, enquanto o investimento pode afundar 6,8 por cento. As exportações e as importações serão as únicas componentes do PIB a puxarem pela economia. Enquanto os bens comprados ao exterior vão aumentar em 5,9 por cento, iremos importar menos 1,9 por cento, devido à quebra do consumo privado.

Para este ano, o Banco de Portugal prevê um crescimento de 1,3 por cento da economia, em linha com as projecções do próprio Governo e acima do que tinha previsto no seu último boletim.

A suportar o aumento do PIB estiveram sobretudo as exportações (que dispararam nove por cento) e um desempenho melhor do que o esperado por parte do consumo interno (que cresceu 1,8 por cento) e do consumo público (aumento de 3,2 por cento).

Na fase final do ano, este crescimento abrandou, devido à retracção do consumo privado e apesar da antecipação de compras de veículos automóveis, impulsionadas pelo aumento do IVA a partir de Janeiro e pelo fim dos incentivos ao abate de veículos em fim de vida.

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