Viagens das tartarugas-de-couro no Atlântico Sul deixaram de ser um mistério

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Uma tartaruga pode atingir os dois metros de comprimento Reuters (arquivo)

As tartarugas-de-couro nascem nas praias do Gabão, África, e atiram-se ao Atlântico para se alimentar. Depois vivem entre 40 ou 50 anos a nadar, com incursões anuais à costa para colocar ovos, no caso de serem fêmeas. Nos últimos cinco anos uma equipa de cientistas observou as rotas e descobriu que estes répteis fazem milhares de quilómetros para três destinos diferentes. Os resultados foram publicados na revista Proceedings of the Royal Society B.

“O que mostrámos é que existem três rotas de migração definidas quando [as tartarugas] voltam para os locais de alimentação no meio do oceano, depois de se reproduzirem no Gabão”, disse citado pelo The Guardian Matthew Witt, primeiro autor do artigo, que trabalha no Centro de Ecologia e Conservação da Universidade de Exeter no Reino Unido. Segundo o investigador, os números de tartarugas a adoptar cada estratégia varia em cada ano.

Esta é a primeira vez que se consegue determinar as rotas das tartarugas. No entanto, ainda existe um mistério. “Não sabemos o que influencia a escolha da rota, mas sabemos que são viagens extraordinárias – com uma das fêmeas a ser seguida durante milhares de quilómetros numa viagem em linha recta que atravessou o Atlântico”, explicou.

As tartarugas-de-couro (Dermochelys coriacea) podem atingir dois metros de comprimento e terem mais de 900 quilogramas de peso. O que os investigadores propõem é que as rotas ficam definidas no início da vida das tartarugas. Quando saem dos ovos e vão para o mar, os indivíduos são pequenos e ficam submetidos às correntes marítimas. Mais cedo ou mais tarde acabam por dar com um banco de alimento. Depois, quando vão até à terra desovar, acabam por voltar a este local que conhecem.

As 25 tartarugas-de-couro foram seguidas através de satélite. Cada uma tinha um transmissor nas costas com quatro baterias de lítio. Isso permitiu conhecer o rumo detalhado de cada indivíduo. Uma das tartarugas, chamada Tika, saiu a 2 de Fevereiro de 2009 da costa do Gabão e atravessou o Atlântico até à costa da América do Sul. A viagem durou seis meses com Tika a percorrer 8000 quilómetros.

Perigo das redes de pesca

No artigo publicado ontem pode-se observar os mapas com as rotas das tartarugas. Uma rota é circular e situa-se no meio do Atlântico, outra dirige-se para o Brasil e a terceira vai até ao cabo da Boa Esperança, no Sul de África. As viagens atravessam sempre locais de pescas, um dos maiores perigos para esta espécie. Muitas tartarugas ficam presas nas redes e nos arpões e acabam por morrer.

“Conhecermos as rotas ajudou-nos a identificar pelo menos onze nações que deveriam estar envolvidas nos esforços de conservação”, explicou Brendan Godley à AFP, último autor do artigo, que trabalha no mesmo centro de Witt.

No Oceano Pacífico o desaparecimento desta espécie tem sido muito intenso devido à pesca. “Lá a população teve um enorme declínio – mais de 98 por cento [desapareceu] nos últimos 30 a 40 anos”, disse Witt. “A população aproxima-se da extinção, só existem algumas centenas de fêmeas, em vez de centenas de milhares.” No entanto os cientistas defendem que uma mudança nas técnicas de pesca poderia evitar que as tartarugas ficassem presas.

No Atlântico a situação está bastante melhor, por que os locais de ninho não estão a ser destruídos de uma forma intensa. O Gabão é um dos locais mais conservados com uma enorme população. Oitenta por cento das praias da costa onde as tartarugas desovam fazem parte de um Parque Natural, o que permite a protecção dos ninhos e o fornecimento anual de novos indivíduos à população.

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