Mortalidade de aves em Portugal tem causas conhecidas

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Vítor Encarnação salienta o Inverno especialmente rigoroso Foto: Pedro Cunha

Bem longe da dimensão das “chuvas de aves” nos Estados Unidos, quem anda no terreno em Portugal tem visto mortalidades significativas. Pombos-bravos, garças e aves marinhas morrem devido ao mau tempo, seca e caça ilegal com fogo-de-artifício.

Vítor Encarnação é ornitólogo no Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB) desde 1976 e nunca viu nada da dimensão do que aconteceu no Arkansas e no Louisiana.

Ainda assim, o coordenador da Central Nacional de Anilhagem já tem visto episódios de mortalidade de aves em Portugal, especialmente devido a condições meteorológicas mais adversas.

“Quando há períodos de seca, algumas aves não se conseguem alimentar e morrem de fome”, contou ao PÚBLICO. Lembra-se, por exemplo, que “há cerca de três anos houve um caso de seca em que muitas garças-boieiras morreram de fome”.

Mas não é só. É usual darem à costa 20 ou 30 aves marinhas depois de períodos prolongados de mau tempo no mar. “As aves marinhas morrem de exaustão, fome e de frio. Quando aparecem no mesmo sítio é porque ficaram presas nas redes de pesca e os pescadores atiram-nas ao mar já mortas, vindo dar à praia juntas.”

Além disso, “quando há mau tempo, na época de reprodução de garças, os pintos já não conseguem ter a protecção dos pais morrem de frio. Nestes casos verificam-se mortalidades significativas”.

Estas são as causas “normais e naturais”. Mas existem outras. “Em Portugal é muito utilizado o fogo-de-artifício para a caça ilegal ao pombo”, lembrou. O que acontece é que são disparados foguetes para cima das árvores onde estão os animais a dormir. Estes “com o susto, atiram-se literalmente para o chão, fugindo na direcção oposta aos foguetes. Morrem às centenas. É um método barato e que não dá trabalho, é só apanhar os animais do chão”.

Vítor Encarnação não conhece as causas das “chuvas de aves” no Arkansas e no Louisiana. “Pelas imagens que tenho visto na televisão, parece-me que talvez tenha sido uma queda de granizo, já que é um fenómeno localizado. E as aves de pequeno porte não resistem” a este tipo de situação. O especialista em aves lembra também que este Inverno tem sido muito rigoroso. “Já é natural que milhares de aves morram no Inverno. Mas quando o frio surge de repente, as aves não têm tempo de fugir e morrem de frio”.

Em Portugal, se isto acontecesse, “produziria menos efeitos”, já que “a escala é diferente”. O maior bando que já viu foi um de pombos bravos, com cerca de um milhão de indivíduos.

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