Governo contesta adesão de três milhões à greve

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Ministra diz que país não parou com a greve Pedro Cunha

A ministra do Trabalho, Helena André, afirmou esta noite, no segundo balanço governamental da greve, que “o país viveu uma greve geral tranquila”. A governante contestou o número dos sindicatos, que indicam a paragem de três milhões de trabalhadores num universo de cerca de cinco milhões.

A ministra disse que não queria entrar "em guerra sobre dados". Mas referiu que Portugal tem actualmente pouco mais de 4,9 millhões de trabalhadores activos. Se três milhões fizessem greve, o país teria parado. "Todos pudemos observar que, com algumas excepções, o país não esteve parado", afirmou Helena André.

A ministra referiu ainda que adesão do sector privado “foi muito reduzida” e, deu como exemplo, o facto de, entre as 1h00 e as 16h00, “o consumo de energia ter sido praticamente igual ao de ontem”.

Outros “indicadores relevantes” para Helena André foram “a reduzida adesão no sector da cortiça”, na Galp, na EDP, nos bancos, “que estiveram todos abertos”, e nas grandes empresas de distribuição.

Em relação ao sector dos transportes, a ministra classificou a situação entre as empresas como “muito variável”, indicando que houve casos em que a adesão rondou os cinco por cento e outros em que se situou nos 90 por cento.

"Mais de três milhões"

Esta tarde, em conferência de imprensa conjunta entre a CGTP e a UGT, Manuel Carvalho da Silva e João Proença reafirmaram os princípios da greve e garantiram a participação de “mais de três milhões de trabalhadores” da função pública e do sector privado no protesto.

Carvalho da Silva, secretário-geral da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP), disse que a central continua a receber dados. “Apesar de continuar essa observação, estamos em condições de transmitir que estiveram envolvidas mais de três milhões de trabalhadores e trabalhadoras portugueses”, referiu.

Esta foi, segundo disse, “nos seus aspectos gerais”, a greve que teve “maior impacto” realizada até hoje em Portugal entre as centrais sindicais, tendo em conta “o contexto” em que foi realizada. Razão que explica o facto de ser “olhada do exterior com muita atenção”, disse.

Ao referir-se à paralisação de hoje como uma “greve oportuna para o futuro do país”, Carvalho da Silva referiu-se tanto ao impacto que teve na função pública, como no sector privado.

Apontou um dado que considerou “extraordinariamente importante”: a transversalidade da greve, por abranger “camadas de trabalhadores com qualificações muito diversificadas”, a somar ao facto de o impacto no sector privado ter “expressões variadas, mas em áreas determinantes do sector produtivos” e “com paralisação em grandes empresas”.

Reclamou “políticas de exigência de criação de emprego, de crescimento económico e, sobretudo, de não empobrecimento da sociedade portuguesa”. E, por isso, referiu a necessidade de mobilizar “em particular a juventude”.

”Vamos continuar a contestar a diminuição dos salários”

Por seu lado, João Proença, secretário-geral da UGT. Ao lado de Carvalho da Silva, reafirmou os pontos comuns assumidos pelas duas sindicais e repetiu a mensagem que tinha deixado durante o dia, de mobilização no sector púbico e privado.

Referiu uma jornada contra as políticas “traduzidas no PEC III [Pacto de Estabilidade e Crescimento] e no Orçamento do Estado” e disse de forma clara: “É fundamental que não haja novo PEC, [é necessário] que muitas medidas sejam alteradas”.

E prometeu: “Vamos continuar a contestar a diminuição dos salários. Vamos dizer que este orçamento é mau. A forma é altamente penalizadora para os trabalhadores”.

“Não aceitamos minimamente a posição do Governo de estar a pôr em causa o direito à administração colectiva, na administração pública e no sector privado”, disse.

Depois de sintetizar o dia de hoje como a tradução da “esperança num futuro melhor”, reconheceu que “muita gente não fez greve, mas manifestou-se solidária”, exemplificando com “empresários que vestiram a camisola do descontentamento”.

“Há uma dimensão de contestação às políticas e uma dimensão de esperança de lutar por políticas diferentes”, acrescentou.

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