Todos contra "ideia idiota e perigosa" do Dia Internacional da Queima do Corão

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Os EUA temem que a queima do Corão seja usada pelos extremistas Reuters

A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, qualificou como "desrespeitoso e vergonhoso" o plano de uma Igreja evangélica da Florida, que convocou os seus fiéis para uma cerimónia de queima de cópias do Corão no próximo sábado, de forma a assinalar o aniversário dos atentados de 11 de Setembro de 2001 nos Estados Unidos.

O Dove World Outreach Center, uma congregação com menos de cem pessoas da cidade de Gainesville, na Florida, pretende homenagear as vítimas dos ataques terroristas através da queima de 200 cópias do livro sagrado dos muçulmanos. O promotor do evento, o pastor Terry Jones, garantiu à Associated Press que nem as mais de cem ameaças de morte que já recebeu, nem os apelos dos governantes do país o vão demover de presidir à cerimónia. "Estou preparado para dar a minha vida por isto", declarou o pastor, autor de um livro intitulado O Islão É o Demónio.

O procurador-geral Eric Holder descreveu o "Dia Internacional da Queima do Corão", inventado por Jones, como uma "ideia idiota e perigosa" e garantiu que o Departamento de Justiça não deixaria de investigar "agressivamente" e acusar todos os responsáveis por crimes designados como "de ódio".

O secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa, denunciou o projecto do pastor evangélico da Florida como uma "obra de um fanático" e pediu aos americanos para não se deixarem contaminar por este tipo de "abordagens destruidoras". Mas de acordo com a presidente da Sociedade Islâmica da América do Norte, Ingrid Mattson, a comunidade muçulmana nos Estados Unidos sente-se cercada: "Muitos dizem que nunca se sentiram tão ansiosos e inseguros como agora."

"Ofensa escandalosa"

Ontem, vários líderes religiosos católicos, evangélicos e judeus denunciaram o "frenesim antimuçulmano" que se está a viver na América, fruto da "desinformação e intolerância".

"Esta ameaça de queima do Corão é uma ofensa escandalosa que exige a mais veemente condenação de todos os que valorizam a civilidade na vida pública e pretendem honrar a memória daqueles que perderam a vida no dia 11 de Setembro de 2001", lê-se na declaração conjunta.

A ONU emitiu um comunicado em nome do seu secretário-geral, Ban Ki-moon, dizendo que acções como aquela planeada pelo pastor Terry Jones "contradizem os esforços das Nações Unidas e de muitos outros para fomentar a tolerância, o entendimento entre culturas e o respeito entre as religiões".

Também a alta-representante da União Europeia para a Política Externa, Catherine Ashton, censurou a planeada queima do Corão na Florida e apelou ao "respeito por todas as crenças religiosas". "Esta não é claramente a maneira de proceder", reprovou.

Segundo o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, o Presidente, Barack Obama, partilha a "inquietação" manifestada pelo general David Petraeus, que comanda as tropas americanas e a missão da NATO no Afeganistão, e alertou para as possíveis consequências nefastas da iniciativa. "Imagens da queima do Corão vão ser usadas pelos extremistas no Afeganistão e noutros lugares do mundo para inflamar a opinião pública e incitar à violência [contra os Estados Unidos]", antecipou o general.

No Cairo, o xeque Abdel el-Moati el Bayoumi, um dos dirigentes da Universidade de Al-Azhar, considerou que a cerimónia põe em causa a reconciliação dos Estados Unidos com o islão tentada por Obama. "Se o Governo americano não conseguir pôr cobro a esta cerimónia, ela constituirá uma prova cabal de terrorismo religioso, e arruinará as relações da América com o mundo muçulmano", declarou à AFP.

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