Mário Soares critica privatizações previstas no Plano de Estabilidade e Crescimento

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Cláudia Andrade

O ex-Presidente da República Mário Soares criticou hoje as privatizações de grandes empresas, previstas no Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC), e defendeu que o Governo devia concentrar atenções no combate ao desemprego, à pobreza e às desigualdades sociais.

"Não compreendo como é que se vai privatizar os CTT, uma companhia de bandeira como é a TAP, ou outras companhias assim", disse Mário Soares, que falava num encontro "A Crise e as Respostas do Socialismo Democrático", promovido pelo presidente da Federação Distrital de Setúbal do PS, Vítor Ramalho.

"Quando o país está em dificuldade e é preciso que o Estado tenha poder e capacidade monetária, que venha não somente de fora mas de dentro, para resolver o problemas que afectam as classes mais desfavorecidas - e é para isso que nós socialistas servimos, para servir as classes mais desfavorecidas -, é evidente que não podemos estar assim a desbaratar o nosso próprio património. Não tem sentido, não faz sentido", disse.

Muito aplaudido pelos cerca de 300 participantes no encontro, Mário Soares também fez alguns elogios às medidas do Governo para combater o desemprego, salientando que é no combate ao desemprego e à pobreza que o Governo deve concentrar atenções.

"Há algumas políticas de apoio ao emprego que eu acho que são boas, e esse é o principal problema que temos hoje. O problema não é dos que estão empregados quererem mais ou menos salários. Eu reconheço que os salários em Portugal são muito baixos, mas são o que podem ser", disse, alertando para a necessidade de haver justiça social.

"Para que haja justiça social é preciso que nós não façamos de conta que entrámos com milhões para salvar os bancos, que depois não sabemos nada desses bancos, não culpamos ninguém dos culpados que lá estão, deixamos andar", disse Soares.

Reiterando as críticas feitas minutos antes aos bancos pela ministra do Trabalho, Helena André, que também integrou o painel de convidados, juntamente com o ministro da Economia, Vieira da Silva; o secretário de Estado Adjunto, da Indústria e do Desenvolvimento, Fernando Medina; e o economista Ferreira do Amaral, Mário Soares disse que esse clima de impunidade não pode continuar.

"Isso não pode ser porque essa impunidade nos deixa a nós todos mal com a nossa própria consciência. E nós estamos numa altura em que temos de lutar contra o desemprego, a pobreza e as desigualdades sociais", frisou.

"O desemprego, a pobreza e as desigualdades sociais são um triângulo trágico para nós. Sem isso [combate ao desemprego e à pobreza] pode acontecer-nos qualquer de coisa de semelhante ao que está a acontecer noutros pontos da Europa e do mundo, que são as revoltas", advertiu.

O antigo Presidente da República lembrou que, quando não há coesão social as pessoas acabam por provocar revoltas que são "perigosas".

"É por isso que o principal esforço para o equilíbrio do sistema está nestes três pontos [combate ao desemprego, pobreza e desigualdades socais] e só depois no endividamento externo e no défice", concluiu Mário Soares.

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