Juiz retira acusações de homicídio contra seguranças da Blackwater

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Dois dos guardas (Nick Slatter, segundo à esquerda e Donald Ball, terceiro), com os seus advogados Chris Detrick/REUTERS

Foram retiradas as acusações de homicídio apresentadas contra cinco seguranças da Blackwater, envolvidos num tiroteio no centro de Bagdad em 2007, no qual morreram 14 iraquianos e 20 ficaram feridos. Um juiz federal considerou que as declarações feitas horas depois pelos seguranças ao Departamento de Estado, que contrata os serviços da empresa, foram obtidas sob a garantia de que nunca seriam usadas contra eles em tribunal.

O juiz Ricardo Urbina, de Washington D.C, considerou assim que havia irregularidades na elaboração do processo, adianta o jornal “The Washington Post”. “No seu zelo em formular a acusação, o Ministério Público e os investigadores [do Departamento de Estado] procuraram agressivamente obter declarações logo a seguir ao tiroteio. Ao fazê-lo, a equipa de acusação do Governo ignorou avisos de conselheiros com experiência que tinham sido nomeados especificamente para os aconselhar neste caso”, escreve o juiz.

A decisão deixou a ministra iraquiana dos direitos humanos, Wejdane Mikhail, "estupefacta". "O que se passou foi muito mau tendo morrido tantas pessoas, jovens, estudantes, mortos por alguém que gostava de disparar contra pessoas não armadas", afirmou, avançando que espera agora que a embaixada dos Estados Unidos lhe faça chegar uma cópia da decisão do juíz.

Este foi o pior incidente em que se viram envolvidos seguranças da Blackwater – que entretanto mudou de nome, para Xe Services – e causou mesmo um certo stress nas relações entre os Estados Unidos e o Iraque.

Agora, comentando a decisão, um porta-voz do Governo iraquiano, Ali al-Dabbagh, disse que os cinco homens – Paul Slough, Evan Liberty, Dustin Heard, Donald Ball e Nicholas Slatten – cometeram “um crime sério” e que Bagdad “está desapontado com a decisão do tribula norte-americano”, cita a Reuters. “O Governo iraquiano está a considerar outros meios legais para processar a empresa Blackwater”, acrescentou.

O general Ray Odierno, comandante das tropas norte-americanas no Iraque, ecoou o descontentamento do Governo iraquiano, relata a agência Reuters. “Claro que ficamos perturbados quando acreditamos que pessoas que cometeram um crime não são responsabilizadas”, disse aos jornalistas em Bagdad. Esta decisão, acrescentou, pode ter consequências desagradáveis para as empresas de segurança que trabalham no Iraque, sublinhou.

Várias organizações de defesa dos direitos humanos denunciaram este e outros incidentes envolvendo abusos cometidos por empresas de segurança contratadas pelos Estados Unidos para assegurar partes do esforço de guerra que anteriormente eram asseguradas pelo exército e agora foram privatizadas.

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