"En el día veintidós, Italia dice adiós"

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Casillas defendeu dois penáltis e quebrou uma maldição de 22 anos Christian-Charisiu/Reuters

Há vários dias que à noite, nas ruas de Viena, não se ouve outra coisa. "En el día veintidós, Italia dice adiós". Tem sido uma espécie de exorcismo dos adeptos de “la roja”, que já tinham visto a sua selecção cair três vezes na marcação de grandes penalidades no dia 22 de Junho (1986, 1996 e 2002).

Quis o destino – e quis o Europeu mais espírito de contradição de que há memória – que desta vez assim não fosse. Quis o destino que na arena Ernst-Happel fossem os espanhóis a vestir o traje de luzes, a bailar com a capa e a sair vitoriosos da corrida.

O jornal "El País" dizia hoje que a selecção espanhola “nada tinha a temer a não ser um resultado negativo”. Porque tem sido esse o destino das selecções espanholas dos últimos tempos. Uma equipa com muita coragem e com mais talento que sorte. Desta vez, detectava-se algo mais. Mas esta noite até esse extra parecia ter-se esfumado quando a selecção totalista defrontou a selecção que passou este Euro à míngua.

Já se sabe. A Itália joga como se tivesse todo o tempo do mundo. Retrai-se, descontrai-se e aprecia o adversário como se estivesse sentada num hipódromo à espera de ganhar uma aposta choruda. A Espanha é o outro pólo. É a equipa que sabe que a meta está ali, mas que os últimos metros desse percurso teimam em repetir-se eternamente como num daqueles pesadelos de John Carpenter.

Enquanto os espanhóis tentavam (podiam ter conseguido muito mais cedo se o árbitro tivesse apitado aquela falta de Ambrosini sobre Villa), os italianos esperavam pelo seu momento com o calculismo do costume – e com Cassano colado a Sérgio Ramos para o que desse e viesse. Vista de cima, a equipa montada por Donadoni parecia um funil que obrigava Espanha a progredir pela entrada mais estreita. Para cada duas, três investidas espanholas, um lance com a marca italiana. Houve aquele remate que saiu do pé esquerdo de David Silva (e que pé esquerdo) e mais dois ou três rasteiros. Houve aquele cabeceamento de Toni que Marchena desviou. Houve um centro de Villa para Torres que não deu em nada e um de Torres para Villa com o mesmo resultado. Durante largos minutos, assistiu-se a um jogo que parecia querer provar a teoria que defendia Jorge Valdano antes do Europeu. “Será um campeonato sem cérebro”, alertara.

Entretanto, começavam a ganhar relevo os mais musculados que estavam na relva. Chiellini e Zambrotta, Puyol e Senna. E a ganharem relevo os guarda-redes. Buffon pelas más razões (aos 81’ deixou escapar das mãos uma bomba de Senna como se tivesse tentado agarrar um pião), Casillas pelas boas (aos 61’, com a perna esquerda, parou o golo de Camoranesi; aos 95’, com a ponta da luva, desviou um cabeceamento de Di Natale). Nesse momento, já a Espanha jogava com menos um dos talentosos candidatos a melhor do Euro: Torres.

A Itália arriscou sempre pelo ar. Aragonés tinha dito que essa era a vulnerabilidade da sua equipa e Donadoni aproveitou a deixa, entregando todas as bolas a Luca Toni e ao seu projecto de bigode. Donadoni fez suspense, a sua substituição foi Del Piero, mas nada mudou. O destino estava traçado. Penáltis. Outra vez. Dia 22 de Junho. Outra vez. Quando Casillas arrumou com o pontapé de De Rossi, o destino parecia fintado. Quando os italianos gritaram por Buffon e ele respondeu, o destino parecia estar escondido à espreita. Di Natale chutou e voltou San Casillas, espada em riste para mudar a história.

Ficha de jogoEspanha

Casillas, Sérgio Ramos, Marchena, Puyol, Capdevilla, Senna, Xavi (Fabregas, 59'), Iniesta (Cazorla, 59'), Silva, Torres (Guiza, 85') e Villa


Suplentes: Palop, Reina, Albiol, Fernando Navarro, Fabregas, Cazorla, Xabi Alonso, Sérgio Garcia, Guiza, Arbeloa, Juanito e De la Red


Itália

Buffon, Zambrotta, Panucci, Chiellini, Grosso, De Rossi, Ambrosini, Aquilani (Del Piero, 108'), Perrota (Camoranesi, 58'), Cassano (Di Natale, 74') e Toni


Suplentes: Amélia, De Sanctis, Gamberini, Del Piero, Di Natale, Borriello, Quagliarella, Camoranesi e Materazzi


Árbitro: Herbert Fandel (Alemanha) Acção disciplinar: amarelo para Iniesta (11'), Ambrosini (31'), Villa (72') e Cazorla (113')
Assistência: 50 mil espectadores

Resultado no fim do tempo regulamentar e do prolongamento: 0-0

Desempate por grandes penalidades

1-0 por Villa


1-1 por Grosso


2-1 por Cazorla


2-1 De Rossi permite defesa de Casillas


3-1 por Senna


3-2 por Camoranesi


3-2 Guiza permite defesa de Buffon


3-2 Di Natale permite defesa de Casillas


4-2 por Fabregas


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