Ser mãe na adolescência

Em caso de depressão, os efeitos adversos da maternidade precoce podem ser aumentados, colocando o bebé em risco, dada a menor disponibilidade emocional da mãe em termos da interação e dos cuidados.

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Embora a taxa global da maternidade na adolescência tenha diminuído em todo o mundo, segundo dados da Organização Mundial de Saúde, esta condição ainda permanece como um problema de saúde pública, na medida em que as consequências para a jovem mãe, as famílias, o bebé e a sociedade podem ser significativas.

Vários estudos são consensuais quando sugerem a pertença a regiões em desenvolvimento com meios sociais, económicos e culturais desfavorecidos como estando mais relacionados com os comportamentos sexuais de risco dos adolescentes. Alguns fatores associados incluem o baixo nível de escolaridade, a pobreza, o abuso de álcool e de drogas, a pertença a comunidades marginalizadas, as dinâmicas familiares desestruturadas, o início precoce da atividade sexual e a ausência de educação sexual com intervenções bem desenhadas.

Importa salientar que estes factores de risco se associam a outras vulnerabilidades psicológicas, económicas, sociais ou biológicas da jovem. Uma gravidez neste período de vida pode culminar em resultados adversos para a saúde física e psicológica da mãe (aborto, anemia, depressão pós-parto, sentimento de incapacidade, stress, ansiedade, problemas relacionais com a família) e do bebé (baixo peso à nascença, prematuridade).

Sendo a adolescência uma fase de transição da juventude para a vida adulta, são esperadas alterações do ponto de vista da maturação biológica, psicológica e social, que direcionam os jovens para tarefas do desenvolvimento voltadas para a construção da identidade e para a autonomia, sem necessariamente implicar crise. Com a gravidez, a trajetória de desenvolvimento da jovem sofre um conjunto de desafios que se refletem ao nível social, familiar, económico e educativo, aumentando o risco de problemas emocionais.

A falta de apoio da família e do pai do bebé, a crítica e as dificuldades de ajustamento emocional são algumas consequências a que a jovem mãe poderá estar exposta, aumentando a sua vulnerabilidade. A escolaridade pode ser interrompida e a relação com os pares pode sofrer alterações, provocando, em alguns casos, afastamento e um sentimento de isolamento na jovem mãe. Em caso de depressão, os efeitos adversos da maternidade precoce podem ser aumentados, colocando o bebé em risco, dada a menor disponibilidade emocional da mãe em termos da interação e dos cuidados.

Os desafios da integração da gravidez pela jovem nesta fase incluem, ainda, a aceitação das mudanças físicas associadas a este período, que se juntam às mudanças naturais do corpo na adolescência e a reduzida disponibilidade emocional e responsabilidade que a maternidade exige.

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O que pode contribuir para a adaptação da jovem mãe?

Apesar de a gravidez na adolescência surgir numa fase de vida em que as jovens ainda não apresentam a necessária preparação cognitiva, física, emocional e social para lidar com as tarefas que esta condição exige, várias mães adolescentes mostram-se capazes de se comprometer positivamente com a maternidade. Existem factores protectores do contexto social e cultural no qual a maternidade na adolescência ocorre e condições de resiliência que permitem trajectórias de desenvolvimento ajustadas, com a adaptação tanto da mãe como do bebé. Estes factores facilitadores compreendem o suporte do pai do bebé, o equilíbrio emocional da jovem, a proveniência de famílias estáveis, a possibilidade de continuar a estudar e de definir a sua carreira, uma boa rede de apoio dos pares e das instituições e o suporte financeiro da família. Tais factores contribuem para uma melhor auto-estima, redução da ansiedade associada ao desempenho das tarefas parentais, estabilidade emocional, sensação de eficácia e níveis mais elevados de sensibilidade e de expressão do afecto em relação ao filho.

O papel da família e das políticas de educação e saúde

A relação de proximidade entre pais e filhos será facilitadora da abordagem a temas relacionados com o desenvolvimento da criança ou do jovem, incluindo a sexualidade.

Os adultos devem mostrar-se genuinamente interessados em esclarecer aspectos importantes ligados à sexualidade, que deve ser, antes do mais, associada a sentimentos positivos que surgem como fruto de uma relação entre iguais, desejada por ambos e baseada no envolvimento afectivo e no respeito. Numa lógica de estimulação da autoconfiança do jovem para superar qualquer tipo de pressão, inclusive a dos pares, e sem o propósito de controlar, ameaçar ou criticar, os pais e outros adultos significativos para o jovem devem escutar e falar sobre a sexualidade incentivando a tomada de decisão ponderada, o conhecimento de métodos de contracepção e de prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, a intolerância ao toque não consentido, a importância do reconhecimento dos sentimentos do outro e da lealdade inerente ao compromisso. Só assim poderão fomentar uma noção adequada dos valores, do risco, das consequências e das responsabilidades.

Importa clarificar que a transmissão de conhecimentos, apesar de indispensável, não é suficiente para a mudança de comportamentos. É preciso considerar diversos fatores que também interferem, entre os quais, a motivação, as crenças, as normas sociais e a relação entre pais e filhos e entre os pares.

Por conseguinte, as políticas de educação e de saúde devem ser direcionadas, nas várias estruturas que servem de suporte aos adolescentes ao longo do seu desenvolvimento, para medidas que dizem respeito à prevenção de comportamentos sexuais de risco e para a promoção de competências pessoais e sociais que moderam o potencial impacto adverso da maternidade na trajectória de desenvolvimento dos jovens. Falamos sobre mais investimento na educação sexual tanto em casa como nas escolas, em todos os ciclos de ensino, e na melhor preparação dos professores através de intervenções bem delineadas, com a transmissão de informação adequada e livre de preconceitos, de modo a criar a oportunidade para a modificação de comportamentos de risco e do desenvolvimento de competências importantes que estão na base dos comportamentos sexuais responsáveis.

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