Bridgerton: existiu mesmo uma rainha Charlotte (ou Carlota)? Sim e teria ascendência portuguesa

Carlota de Mecklenburg-Strelitz foi a rainha consorte de Jorge III entre 1761 e 1818. Juntos tiveram 15 filhos e eram avós da famosa rainha Vitória.

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Carlota é uma das personagens de Bridgerton e protagonizou Queen Charlotte DR

A rainha Charlotte é uma das personagens centrais da série de sucesso Bridgerton e até já protagonizou o seu próprio drama, o spin-off Queen Charlotte, também na Netflix. Mas, afinal, quem é esta rainha, que foi consorte do rei Jorge III? Charlotte ou Carlota existiu mesmo e diz-se que terá sido a primeira (e única) negra (ou mestiça) a ser rainha de Inglaterra (séculos antes de Meghan Markle se casar com o príncipe Harry).

Terá sido a primeira negra, mas sem certezas, uma vez que todos os retratos da época a mostram com um tom de pele claro. O historiador espanhol Mario de Valdes y Cocom, citado pelo The Guardian, diz que Carlota de Mecklenburg-Strelitz tinha características “africanas”. Apesar de ser alemã, a rainha descendia da família real portuguesa, a partir de Margarita de Castro e Souza.

Margarita de Castro e Souza seria descendente do rei Afonso III e da sua amante, Madragana. Reza a lenda e diz o The Washington Post que, quando o rei português conquistou Faro aos mouros, “exigiu a filha do governador como amante e teve três filhos com ela”. Ou seja, os seus descendentes não seriam negros, mas mestiços.

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Retrato da rainha Carlota DR

A integração em Londres, onde chega na segunda metade do século XVIII para se casar com Jorge III, não foi fácil, sobretudo pela barreira linguística. Carlota nasceu em Mirow, no norte da Alemanha, em 1744, filha dos duques de Mecklenburg-Strelitz, Carlos e a princesa Isabel Albertina. Como tal, recebeu o título de princesa, apesar de se dizer que não recebeu educação real até chegar a Inglaterra.

Em 1761, é seleccionada para se casar com o rei Jorge III, que tinha chegado ao trono no ano anterior, com 22 anos. A lista de pretendentes para Jorge não era longa, já que o rei que estaria limitado a escolher entre as princesas protestantes da Europa ─ não podia eleger uma católica por ser o líder da Igreja de Inglaterra.

Carlota rumou então a Londres e só conheceu o noivo a 8 de Setembro, o dia do casamento. “Apresentada ao rei, Charlotte atirou-se aos seus pés, ele levantou-a, abraçou-a e conduziu-a pelo jardim, subindo as escadas para o palácio”, escreve a biógrafa de Jorge III, Janice Hadlow, citada pela revista Town&Country. Dias mais tarde, a 22 de Setembro, foram coroados numa cerimónia conjunta.

Apesar de ter sido “amor forçado” à primeira vista, o casal ter-se-á mesmo apaixonado e, de acordo com a mesma biografia, Jorge III nunca teve uma amante ao longo de mais de 40 anos de casamento. Durante as primeiras décadas de união, era raro que Carlota e Jorge estivessem separados, tal como se vê na série Queen Charlotte. Tiveram 15 filhos juntos ─ nove rapazes e seis raparigas ─, 13 dos quais sobreviveram até à idade adulta, incluindo, claro, os futuros reis Jorge IV, Guilherme IV e o príncipe Eduardo, duque de Kent, pai da famosa rainha Vitória.

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Carlota e Jorge III na ficção DR

A “loucura do rei”

Jorge IV passaria grande parte da vida a servir como regente do reino, ao lado da mãe, Carlota, em períodos tão difíceis enquanto o da Revolução Americana, que culminaria na independência dos Estados Unidos. Nessa altura, Jorge III já sofria do que seria rotulado então de “loucura” ─ hoje, os especialistas dizem que seria bipolaridade ou uma porfiria aguda, uma doença decorrente de uma deficiência das enzimas e que se manifesta a nível neurológico, de acordo com a Sociedade Portuguesa de Medicina Interna.

Em 1765, um Acto da Regência determinou que, caso Jorge III ficasse incapaz de governar, seria Carlota a actuar enquanto regente, contudo a rainha preferiu que fosse o filho a desempenhar esse papel para que ela pudesse dedicar-se ao cuidado do marido. A partir de 1811, o rei ficou totalmente incapaz, mas Carlota manteve-se ao seu lado.

A rainha nunca foi particularmente interessada em política, mas era uma amante das artes e é responsável por fundar alguns dos edifícios mais icónicos de Londres, como o próprio Palácio de Buckingham. É a partir de 1762, no reinado de Jorge III e Carlota, que este palácio passa a ser a residência oficial dos reis de Inglaterra. Foi também Carlota a comprar Frogmore Cottage, em Windsor, onde viveram Harry e Meghan, como sua casa própria e para as filhas solteiras, em 1792.

Entre a corte da rainha, estava o jovem Mozart, cuja carreira foi patrocinada por Carlota, a quem dedicou a obra Opus 3. A par da paixão pelas artes, Carlota adorava botânica e impulsionando-a e é à monarca que se atribui grande parte dos jardins de Kew, um complexo de jardins, dos mais antigos e completos do mundo.

Seria Carlota mesmo casamenteira como se vê em Bridgerton? A série, desenvolvida pela produtora televisiva de Shonda Rhimes, Shondaland, segue as viagens românticas da família Bridgerton à medida que navegam no implacável mercado matrimonial de Londres, controlado pela rainha. Na realidade, a partir de 1780, Carlota organizava anualmente um baile de angariação de fundos, que se tornou um dos encontros sociais mais importantes entre a aristocracia britânica.

Esse baile inspirou a criação de outras festas, naquela que passou a ser conhecida como a “temporada de Londres”, como se chama também em Bridgerton, mas não há registos de que os encontros tivessem pretensões casamenteiras. A tradição continuou até 1958, muito além da vida da rainha Carlota, que havia de morrer em 1818.

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