“Estamos sem comer há três dias”: cheias no Brasil somam 150 mil desalojados e 100 mortes

Há dezenas de pessoas que continuam desaparecidas após as cheias no sul do Brasil. Alterações climáticas agravam estes fenómenos meteorológicos extremos, dizem cientistas.

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Pessoas retiradas de tractor após as suas casas ficarem inundadas em Eldorado do Sul, no Brasil Amanda Perobelli / REUTERS
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Pessoas a serem retiradas após as suas casas ficarem inundadas em Eldorado do Sul, no Brasil Amanda Perobelli / REUTERS
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Pessoas retiradas das suas casas inundadas ficam a dormir num armazém em Eldorado do Sul Amanda Perobelli / REUTERS
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Pessoas a serem retiradas num veículo militar após as suas casas ficarem inundadas em Eldorado do Sul, no Brasil Amanda Perobelli / REUTERS
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Eva Maria Carvalho num abrigo depois de a sua casa ter sido inundada Amanda Perobelli / REUTERS
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Cintia Santos foi retirada da sua casa inundada em Eldorado do Sul, Rio Grande do Sul Amanda Perobelli / REUTERS
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As cheias devastadoras que atingiram o estado brasileiro do Rio Grande do Sul causaram 100 mortes, segundo o balanço oficial das autoridades feito esta quarta-feira, contando-se ainda milhares de pessoas desalojadas e sobreviventes desesperados em busca de alimentos e suprimentos básicos. As equipas de resgate têm corrido para tentar retirar as pessoas que ficaram presas.

Nos arredores de Eldorado do Sul, a 17 quilómetros da capital do estado, Porto Alegre, muitas pessoas estavam a dormir à beira da estrada e disseram à Reuters que estavam a ficar com fome. Famílias inteiras estavam a sair a pé, levando os seus pertences em mochilas e carrinhos de compras. "Estamos sem comer há três dias e só agora é que recebemos este cobertor. Estou com pessoas que nem sequer conheço, não sei onde está a minha família", disse um jovem que deu o nome de Ricardo Junior.

As inundações dificultaram os esforços de salvamento, com dezenas de pessoas ainda à espera de serem retiradas de barco ou de helicóptero das casas atingidas. Pequenos barcos atravessavam a cidade inundada à procura de sobreviventes.

Uma rua inundada é fotografada em Canoas, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, 5 de Maio de 2024 REUTERS/Amanda Perobelli
Pessoas caminham através das águas das cheias em Canoas, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, 5 de Maio de 2024 REUTERS/Amanda Perobelli
Uma vista de drone mostra casas na área inundada junto ao rio Taquari durante fortes chuvas na cidade de Encantado, no Rio Grande do Sul, Brasil, 1 de Maio de 2024 REUTERS/Diego Vara
Equipas de salvamento retiram pessoas afectadas pelas cheias em Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, 5 de Maio de 2024 REUTERS/Renan Mattos
Equipas de salvamento retiram uma vítima das cheias em Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, 5 de Maio de 2024 REUTERS/Renan Mattos
Lama rodeia uma casa numa quinta destruída pelas correntes das cheias repentinas causadas por fortes chuvas em Jacarezinho, estado do Rio Grande do Sul, Brasil, 5 de Maio de 2024 REUTERS/Diego Vara
Pessoas caminham através das águas das cheias em Canoas, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, 5 de Maio de 2024 REUTERS/Amanda Perobelli
Pessoas são resgatadas após inundações em Canoas, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, 5 de Maio de 2024 REUTERS/Amanda Perobelli
Pessoas são resgatadas após inundações em Canoas, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, 5 de Maio de 2024 REUTERS/Amanda Perobelli
Um homem caminha numa rua inundada no centro da cidade depois de as pessoas terem sido evacuadas em Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, 5 de Maio de 2024 REUTERS/Renan Mattos
Pessoas são resgatadas após inundações em Canoas, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, 5 de Maio de 2024 REUTERS/Amanda Perobelli
Pessoas são resgatadas após inundações em Canoas, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, 5 de Maio de 2024 REUTERS/Amanda Perobelli
Julio Manichesque, 76 anos, está no telhado da sua casa após as inundações em Canoas, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, 5 de Maio de 2024. REUTERS/Amanda Perobelli
Pessoas são resgatadas por moradores após as inundações em Canoas, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, 5 de Maio de 2024 REUTERS/Amanda Perobelli
Pessoas são resgatadas por moradores após as inundações em Canoas, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, 5 de Maio de 2024 REUTERS/Amanda Perobelli
Pessoas reagem depois de serem resgatadas de uma inundação em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, Brasil, 4 de Maio de 2024 REUTERS/Renan Mattos
O exército brasileiro carrega uma mulher depois de ter sido resgatada das inundações em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, Brasil, 4 de Maio de 2024 REUTERS/Renan Mattos
Um trabalhador de resgate carrega um menino depois de ter sido resgatado das inundações em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, Brasil, 4 de Maio de 2024 REUTERS/Renan Mattos
Vista de uma igreja depois de ter sido inundada em Roca Sales, no Rio Grande do Sul, Brasil, 4 de Maio de 2024 REUTERS/Diego Vara
Pessoas atravessam uma estrada destruída durante as cheias em Roca Sales, no Rio Grande do Sul, Brasil, 4 de Maio de 2024 REUTERS/Diego Vara
Uma vista de drone mostra veículos na área afectada pelas cheias, em Encantado, estado do Rio Grande do Sul, Brasil, 3 de Maio de 2024 REUTERS/Diego Vara
Uma mulher tenta chegar à sua casa afectada pelas cheias em Encantado, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, 3 de Maio de 2024 REUTERS/Diego Vara
Pessoas caminham sobre um telhado numa área inundada junto ao rio Taquari durante fortes chuvas em Encantado, estado do Rio Grande do Sul, Brasil, 2 de Maio de 2024 REUTERS/Diego Vara
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Uma rua inundada é fotografada em Canoas, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, 5 de Maio de 2024 REUTERS/Amanda Perobelli

A Defesa Civil do Rio Grande do Sul informou nesta quarta-feira que o número de mortos subiu para 100, enquanto 128 pessoas continuam desaparecidas e 155 mil estão desalojadas.

As fortes chuvas que começaram na semana passada provocaram a inundação de rios, inundando cidades inteiras e destruindo estradas e pontes. Prevê-se que a chuva diminua na quinta-feira, mas que continue durante o fim-de-semana.

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Equipas de resgate numa rua inundada em Porto Alegre, no Brasil REUTERS/Diego Vara

Os climatólogos atribuíram as chuvas extremas no Rio Grande do Sul à confluência de uma onda de calor causada pelo fenómeno El Niño deste ano, que aquece as águas do Pacífico e traz chuvas ao sul do Brasil; uma frente fria mais fraca com chuvas e vendavais vindos da Antárctida; e um calor incomum no Atlântico que também aumenta a humidade. O aquecimento global agrava esses fenómenos e intensifica os efeitos entre esses sistemas, tornando o tempo imprevisível, disse Marcelo Schneider, investigador do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

Cortes de electricidade

Em Porto Alegre, cidade com 1,3 milhão de habitantes, as ruas do centro da cidade ficaram submersas depois de o rio Guaíba ter galgado as margens com um nível recorde de água. Os moradores de Porto Alegre enfrentaram prateleiras vazias nos supermercados e bombas de gasolina fechadas, com lojas que racionavam a venda de água mineral. A Prefeitura de Porto Alegre distribuiu água em camiões para hospitais e abrigos que receberam os desalojados.

As inundações afectaram igualmente os serviços de água e electricidade, com mais de 1,4 milhões de pessoas afectadas no total, segundo a Defesa Civil.

Quase meio milhão de pessoas ficaram sem energia eléctrica em Porto Alegre e nas cidades periféricas, uma vez que as empresas de electricidade cortaram o fornecimento por razões de segurança nos bairros inundados. O operador da rede nacional ONS informou que cinco barragens hidroeléctricas e linhas de transmissão foram encerradas devido às fortes chuvas.

O aeroporto da cidade, com a zona de estacionamento dos aviões debaixo de água, suspendeu todos os voos desde sexta-feira.

A escassez de combustível foi registada quando a empresa petrolífera estatal Petrobras disse que estava a ter problemas a transportar gasóleo da sua refinaria em Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre, que estava fortemente inundada, segundo informações fornecidas por um alto funcionário do governo.

O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse num programa de televisão do governo que a extensão dos danos só será conhecida quando as águas baixarem. O Presidente brasileiro prometeu ajuda federal para o estado naquele que é considerado o pior desastre climático da sua história.

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Pessoas retiradas das suas casas inundadas em Eldorado do Sul, no Brasil, têm ficado a dormir num armazém Amanda Perobelli/REUTERS

Os economistas do JP Morgan projectaram que o impacto das cheias na economia brasileira teria uma modesta redução do crescimento do PIB e um aumento marginal da inflação, principalmente devido ao aumento dos preços do arroz, que é maioritariamente produzido no Rio Grande do Sul. O governo disse que o Brasil vai importar arroz para estabilizar o mercado.

Para além da destruição de infra-estruturas críticas, as chuvas torrenciais e as inundações deixaram os campos de cereais submersos e mataram o gado, interrompendo a colheita de soja e parando o trabalho em várias fábricas de carne.

O porto de Rio Grande, um dos principais portos de exportação de cereais, estava a funcionar normalmente, informou a autoridade portuária do estado. No entanto, as principais estradas de acesso estavam intransitáveis, interrompendo as entregas de cereais ao porto, já que os camiões tiveram que fazer um amplo desvio, disseram os exportadores.

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