Cartas ao director

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Ainda o 1.º de Maio

O país e o mundo têm os olhos postos, nesta quase meia década, nos nómadas digitais, no teletrabalho, nos safe work spaces e espaços de co-working, no mindset empreendedor e no grind pelo rendimento passivo que elimine a dependência do salário. O apelo a fazer é pelos operários, para que não sejam ainda mais esquecidos do que já são pela generalidade dos governos. Pessoas com trabalhos duramente analógicos, que não são passíveis de ser feitos à distância, antes atando-os a espaços de trabalho pouco seguros, numa repetição de tarefas que nada faz senão moer o corpo e o espírito, tornando as fábricas em ambientes física e socialmente insalubres. São a base da sociedade no sentido literal do termo, é neles que assenta tudo o resto. Presos aos Tempos Modernos de Chaplin, e apagados pela modernidade que ajudam a construir todos os dias.

Carlos Castro, Azurém

A reparação às ex-colónias portuguesas

É um assunto que o Presidente Marcelo se lembrou de cogitar e que não deixa de ser delicado, levantando questões de vária ordem. Desde logo: reparar o quê? Reparar quem? Reparar os povos que foram colonizados ou os governantes desses povos, governantes esses que – alguns deles – não passam de ditadores e cleptocratas? Reparar financeiramente? Pese embora alguns países europeus começassem a devolver peças e objectos de arte aos países que foram colonizados, isso não passa de minudências e arrependimentos serôdios. O que passou, passou. Não há que desenterrar situações que foram sanadas. Há uma certa hipocrisia e uma falsa comiseração dos países europeus que foram colonizadores em África. Hoje, esses países tornaram-se independentes e soberanos e não necessitam de nenhuma reparação. A riqueza natural dos seus solos pertence-lhes e não será com reparações apiedadas e retroactivas que ficarão mais ricos, apaziguados e reconhecidos. A haver reparações, estas deveriam contemplar os valorosos soldados portugueses que se bateram em África e que hoje, já velhos e débeis, não são reconhecidos, nas suas pensões, como deveriam ser pelo Governo português. Esta é que é a verdade.

António Cândido Miguéis, Vila Real

Haja respeito pelas Forças Armadas

Num Mundo tão conturbado, a segurança e a defesa têm de merecer uma preocupação mundial crescente e em particular neste nosso cantinho europeu. Infelizmente, nele deveremos ser o país menos preparado, com Forças Armadas obsoletas, que não de militares de fibra que, apesar das limitações, continuam a honrar o nome do país em várias instâncias como nas missões NATO. Deixámo-nos bater no fundo em equipamentos e recrutamento. Tardam reflexões profundas sobre a condição militar, que deveriam suscitar, apesar do muito tempo já perdido, a definição de bases para uma reforma profunda nos três ramos das Forças Armadas. Uma reflexão assente nos militares, nos especialistas em segurança e defesa, ouvindo também a sociedade civil em período de discussão pública. Uma reflexão com conclusões específicas e para cujo resultado deveriam ser encaradas as necessárias reformas com sucessivo cabimento orçamental em função da calendarização das necessidades apontadas. Uma reflexão profunda, intensa, séria e onde as Forças Armadas sejam enquadradas como prioridade na salvaguarda do todo nacional. Nada que as fragilize. As Forças Armadas têm uma dignidade nacional própria. São significantes e dignificantes para a comunidade. Serem vistas de outro modo é negativo, lesivo dos seus princípios e valores. Por exemplo, serem usadas como instâncias para o cumprimento de penas para delitos praticados por jovens. Mesmo de pouca monta, são delitos e as Forças Armadas não podem, não devem, deixar-se equiparar a reformatórios. As Forças Armadas são antes para honrar, não para castigar, mesmo que o amadorismo de um ministro possa deixar querer perceber o contrário. Reformar as Forças Armadas, sim, mas com respeito.

Eduardo Fidalgo, Linda-a-Velha

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